Às vezes, conversas simples carregam lições profundas sobre a vida, a morte e o que realmente permanece conosco. Em uma manhã comum de café com minha avó, mergulhei em reflexões que me marcaram para sempre – sobre o amor, a memória e o verdadeiro significado de estar vivo. Compartilho aqui esse momento especial, com a esperança de que ele também te inspire a valorizar quem caminha ao seu lado.
Hoje tive uma conversa que, acredito, devemos ter com todas as pessoas que amamos. Conversei com a mulher mais importante da minha vida – a mulher que me salvou quando eu havia desistido de mim mesmo e perdido a confiança. Ela me deu um propósito, uma vocação para viver. Essa pessoa especial é a minha avó, Josefa.
Durante nosso café da manhã, ela comentava sobre um acidente que sofreu aos 89 anos: um pequeno derrame. Estávamos falando sobre um cacho de bananas que ela havia ganhado. Ela lembra exatamente do momento em que agradecia pelo presente, e, de repente, simplesmente acordou no hospital. Ficou apenas com uma leve sequela na mão direita, que ficou um pouco dormente, e teve um pequeno corte na cabeça – mas, felizmente, ficou bem.
Agora, aos 91 anos, enquanto conversávamos sobre esse episódio, ela me perguntou:
— Será que morrer é a mesma sensação de quando tive o derrame?
Ela continuou:
— Eu simplesmente não lembro de nada. Estava segurando o cacho de banana, agradecendo, e depois só acordei no hospital. Será que morrer é isso?
Fiquei sem resposta. Eu sou ateu e, honestamente, acredito que talvez seja isso mesmo… Apenas respirei fundo, pensei por alguns instantes em silêncio e respondi:
— Bom, vó, eu não sei… mas acredito que possa ser assim mesmo. E a senhora, o que acredita?
Ela me disse que acredita que, quando morremos, tudo se acaba – mas que algo ainda permanece, como uma aura, uma alma. E que vamos para um outro lugar, que ela chama de céu (ela é católica). Eu apenas sorri e respondi:
— Pode ser também, vó.
Ela me olhou e disse:
— Quando morrermos, vamos descobrir.
Retribuí o olhar, dei um leve sorriso e falei:
— Sim, vó… a gente vai.
Depois, perguntei:
— E o que podemos fazer para seguir em frente quando alguém que amamos morre?
Em seguida, complementei, emocionado:
— Vó, eu não sei o que vou fazer quando a senhora se for… A senhora é a pessoa mais importante deste mundo para mim. A senhora sabe disso, né? Me deu mais do que eu merecia: me acolheu, me deu abrigo, amor, carinho, uma nova chance de viver. Sou eternamente grato por tudo, por cada ensinamento, por todos os momentos incríveis que já passamos – e ainda vamos passar.
Ela me olhou com os olhos já brilhando. Sentei ao lado dela, e ela me disse:
— As pessoas que amamos e que são importantes para nós sempre estarão conosco, mesmo depois da morte. Elas permanecem nas lembranças – sejam boas, sejam ruins… Eu mesma já vivi bastante. Todos os meus oito irmãos já morreram. Tenho apenas mais quatro irmãs. E, vez ou outra, lembro deles.
Ela respirou fundo, sorriu levemente e continuou:
— Como é bom lembrar… Lembro da minha avó, do meu pai, da minha mãe, dos meus irmãos. Eles sempre estão aqui comigo!
Sem reação, apenas respondi:
— É verdade, vó. Por mais difícil que seja aceitar ou imaginar, quem amamos sempre estará conosco até o fim das nossas vidas, até o último suspiro. Porque só o esquecimento é capaz de matar alguém que já morreu.
Continuamos conversando. Ela começou a se lembrar de vários momentos da vida, e ficamos ali, durante quase uma hora, tomando café e falando sobre memórias. No fim, levantei, dei nela um abraço de urso – daqueles demorados -, beijei sua testa e falei que a amava muito. Ela sorriu e respondeu que também me amava muuitooo. Ficamos abraçados ali, em um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.
A morte, por mais delicada que seja, talvez seja isso: o esquecimento de quem amamos. Por mais que um ente querido morra fisicamente, ele sempre viverá em nós, em nossas memórias. A vida é feita de momentos e lembranças. E devemos criar o máximo de momentos especiais possível com quem amamos.
A vida é sobre viver, não apenas sobreviver. Estamos aqui para viver, crescer e evoluir. E, mesmo que percamos pessoas especiais em nossa jornada, elas permanecerão conosco.
Sempre conheceremos novas pessoas que também serão especiais para nós. Falo por experiência: muitas das pessoas mais importantes da minha vida não são meus familiares, mas pessoas que surgiram como se por acaso – e que me ensinaram e continuam me ensinando a ser alguém melhor.
Para mim, a vida é sobre viver esses momentos especiais e aprender a apreciá-los – estando verdadeiramente presentes, no aqui e no agora, com quem importa.
E, para finalizar, deixo um fragmento poético de Carla Madeiro:
“Existe um certo milagre nos encontros.”